Conheça o efeito “priming”: as experiências cotidianas e sua influência sobre comportamentos e hábitos.

A Covid-19 apresentou uma série desafios com consequências para o comportamento e os hábitos das pessoas. Uma dinâmica que a Genesys, empresa especializada em experiência do cliente, analisou com resultados surpreendentes.

Entre dezembro de 2020 e abril de 2021, a Genesys pesquisou mais de onze mil consumidores nos Estados Unidos, América Latina, Europa e Ásia-Pacífico com o objetivo de descobrir como a pandemia afetou sua saúde, felicidade, interações sociais e profissionais.

A amostra incluiu mais de duas mil respostas de consumidores de quatro países latino-americanos (Chile, México, Colômbia e Brasil), que revelaram como o senso de conexão entre os seres humanos foi profundamente afetado pelas circunstâncias atuais e como suas experiências recentes afetam suas impressões e opiniões sobre seu ambiente e as outras pessoas.

O entorno e sua influência nas decisões

Apesar dos milhares de anos de evolução como espécie, o comportamento das pessoas continua sendo uma resposta aos estímulos do mundo. O cérebro, em sua busca constante pela maneira mais fácil ou eficiente de fazer as coisas, fica com as informações mais próximas ou repetitivas desses estímulos, deixando de lado os dados menos relevantes.

Daniel Kahneman, em seu livro “Rápido e devagar: duas formas de pensar”, identificou que esta simplificação do processamento da informação facilita as inferências rápidas sobre os eventos no mundo ao nosso redor, e funciona como um traço evolutivo e adaptativo.

No entanto, segundo o autor, isso inevitavelmente conduz a erros denominados “vieses cognitivos”, que podem ser definidos como formas não razoáveis de tomar decisões, baseadas em deduções com pouca profundidade ou sem um alto nível de esforço.

Esses vieses cognitivos podem fazer com que a tomada de decisões de uma pessoa seja tendenciosa, errada e, inclusive, manipulável, como será visto a seguir.

Da ideologia à vida cotidiana

Como as ideologias e valores culturais influenciam inconscientemente no comportamento de uma pessoa? Os estudos e experimentos realizados no século XX por Eric Uhlmann,

Andy Poehlman e John Bargh no campo da psicologia social oferecem uma perspectiva muito interessante.

Por exemplo, esses especialistas reuniram um grupo de voluntários e os instruíram para memorizar uma série de palavras. Em um primeiro experimento, os participantes tiveram que memorizar uma primeira lista de palavras (palavra 1, palavra 2, palavra 3, palavra N).

Em um segundo experimento, não relacionado com o primeiro, os voluntários deveriam dizer a primeira palavra que lhes ocorresse após ouvir uma lista de termos (palavra A, palavra B, palavra C, palavra Z), sob uma dinâmica de associação livre.

Para surpresa de todos, as palavras do primeiro experimento surgiram como resposta ao exercício proposto pelo segundo experimento. Portanto, os cientistas concluíram que as palavras do primeiro experimento tinham sofrido o efeito “priming” (identificadas pelo cérebro como as mais reiteradas ou acessíveis).

Isso permitiu aos pesquisadores demonstrar como os estímulos operam de maneira inconsciente para influenciar as opiniões e os comportamentos das pessoas.

O efeito “priming”

Os métodos empregados por Uhlmann, Poehlman e Bargh em seus experimentos continuam sendo utilizados hoje, com o objetivo de descobrir os diferentes tipos de efeitos “priming”.

Embora tenha sido identificado que o efeito “priming” não afeta a todos da mesma forma, é possível afirmar que o comportamento de cada indivíduo está atrelado a fatores intrínsecos e extrínsecos de seu entorno que estão presentes na nossa vida cotidiana, inclusive mais do que podemos perceber.

Por exemplo, o efeito “priming” foi visto em exercícios cognitivos perceptivos e conceituais, em estratégias de posicionamento de produtos através da semântica, associação ou repetição, em estratégias de fidelização de clientes e como uma ferramenta poderosa para acentuar estereótipos.

Conexão entre humanos e Covid-19

A pandemia de Covid-19 é um claro exemplo dos vieses cognitivos devidos à incerteza, ao medo, à falta de confiança e ao profundo impacto que esta situação sanitária causou na vida das pessoas.

Os lockdowns, o trabalho remoto, a preocupação com amigos e familiares, a educação dos filhos e as incertezas sobre o futuro afetaram a percepção do mundo real, tornando-a incompleta no que diz respeito à simplificação da informação. Este último ponto é um processo fundamental para a tomada de decisões mais eficientes.

Se levamos em consideração que a personalidade é um conjunto de valores e comportamentos, gostos e aversões construído pelas experiências cotidianas que ativam ideias e desejos, existem argumentos para afirmar que a maneira como as pessoas pensam o mundo é determinada por inúmeros estímulos que acabaram sendo modificados pela vida pandêmica.

Mais precisamente, o senso de “conexão” com outros seres humanos foi profundamente afetado em meio à pandemia de Covid-19. Durante esse período sem precedentes, a necessidade inerente de experimentar objetiva e racionalmente o que a outra pessoa sente foi transformada.

Normalmente, os vieses cognitivos são superados escutando, aprendendo, entendendo e prevendo, para finalmente agir com base na compreensão e no entendimento de determinadas circunstâncias e, dessa forma, compreender como os outros percebem o mundo e tomam suas decisões.

Porém, nesta nova realidade, encontrar essas respostas emocionais e comportamentais perante o estado afetivo de outras pessoas tornou-se uma dificuldade para a criação de laços duradouros.

Por último, apesar do fato de que hoje a pandemia e suas complicações na vida diária constituam um efeito “priming” em nosso relacionamento com os outros, a empatia como valor é o melhor contrapeso. A empatia, justamente, é o mais forte indicador de emoções em comparação com os vínculos previamente estabelecidos pelo efeito “priming”, ganhando relevância para influenciar ou ser influenciados.